| Resumo: | O avanço das tecnologias digitais tem transformado profundamente a dinâmica das relações amorosas entre os/as jovens, promovendo uma comunicação constante, mas também abrindo espaço para novas formas de comportamentos abusivos, como o abuso cibernético no namoro (Marganski & Melander, 2015; Smith, Ireland, Park, Elwyn, & Thornberry, 2011; Strickland & Mosley, 2023; Villora, Yubero, & Navarro, 2019). A presente Dissertação teve como objetivo analisar a relação entre o abuso cibernético no namoro e o ambiente familiar, procurando compreender de que modo a dinâmica familiar poderá influenciar tanto a vitimação como a perpetração de comportamentos abusivos em ambientes digitais.
O estudo baseou-se numa amostra, por conveniência, de 286 jovens (15-25 anos), maioritariamente do sexo feminino (84%), estudantes (85%) e residentes na Região Norte de Portugal (57%), sendo que 65% dos/as participantes estavam envolvidos/as numa relação amorosa no momento da investigação. A recolha de dados decorreu entre junho e julho de 2024, através da plataforma Google Forms, utilizando-se, para o efeito, a versão portuguesa do Cyber Dating Abuse Questionnaire (CibAN) e a Escala de Sinalização do Ambiente Natural Infantil (SANI).
Os resultados revelaram que os participantes do sexo masculino reportaram níveis mais elevados de perpetração de agressões diretas, bem como níveis ligeiramente superiores de vitimação, ainda que, neste último caso, sem alcançar uma significância estatística robusta. Importa ainda destacar que, a perpetração de abuso cibernético demonstrou estar mais fortemente associada a dimensões de coerção e de controlo no ambiente familiar, em comparação com a vitimação. Estes dados sugerem que jovens expostos/as a contextos familiares marcados por dinâmicas coercivas e violentas tendem a reproduzir tais padrões nos seus relacionamentos amorosos, inclusive no meio digital, reforçando, assim, a ligação entre a violência familiar e o abuso cibernético no namoro. Neste sentido, salienta-se a importância do desenvolvimento e da implementação de programas de prevenção que promovam a literacia digital, a consciencialização sobre os riscos do abuso online e a construção de relações afetivas saudáveis, contribuindo para a consolidação de uma cultura de não violência. |
